ANÁLISE DA SEMANA (BENFICA - OLIVEIRENSE)

Um colo (des)necessário

Desta vez, para minha infelicidade, não haverá estatísticas ou análises a lances específicos. E muito havia para falar visto o altíssimo nível qualitativo do encontro. Contudo, falar de algo que não tenha a ver com o lance do jogo seria desviar atenções para o que foi realmente decisivo para o desfecho da partida. Falo-vos claro do lance que originou o cartão azul a Ricardo Barreiros. Vamos às verdades de La Palice:

Em primeiro lugar, é incompreensível como se nomeia uma dupla francesa (Arnaud Esoli e Xavier Bleuzen) para uma final da Liga Europeia. Para se nomear uma dupla que não seja portuguesa, italiana e espanhola, seria imperial ter duplas de arbitragem com provas dadas em outros encontros internacionais. Não é o caso. Arnaud Esoli e Xavier Bleuzen têm andado por aí, mas nem por isso têm sido rotulados com grandes arbitragens. Árbitros de outros campeonatos que não o espanhol, português ou italiano não têm, como todos sabemos, o mesmo nível qualitativo de campeonato onde possam evoluir. O campeonato francês têm evoluído mas em hóquei jogado está ainda a anos luz do português e espanhol, principalmente.

Em segundo lugar, tivemos precisamente no dia anterior uma arbitragem de sonho, protagonizada por Óscar Valverde e Paco García, no Oliveirense - Forte dei Marmi. Uma perfeita noção do que de facto é falta e do que desequilibra ou não um hoquista, não apitando somente porque o jogador caiu ao chão, como se faz em Portugal e Itália. Sim, a arbitragem espanhola tem diferenças, para melhor, em relação às outras duas, e são grandes infelizmente. Se fossemos pelo mérito e qualidade, esta seria a dupla nomeada para apitar a final, mas não só não apitaram a final como também nunca apitaram a equipa da casa.


Em terceiro lugar, os beneficiados. A vitória do Benfica que poderia ter sido plena de mérito, acaba por ser tudo menos isso. Dito por outras palavras, o lance que expulsa Ricardo Barreiros impede o Benfica de conquistar o troféu de forma categórica. Daí o (des)necessário, é que o Benfica, ao fim e ao cabo, usufruiu deste 'empurrão' quando, na verdade, talvez não precisasse dele. A festa ficou estragada e os adeptos presentes na Luz sentiram-no, pois a força da voz nos festejos dos três primeiros tentos não foi a mesma em relação aos restantes e o mesmo em relação à cerimónia de entrega da taça.

Por último, para quem se questiona por que terá um lance tanta importância no desfecho do jogo, ficam aqui as razões. Errar é normal. Em lances duvidosos aceitam-se decisões distintas. Faltas de equipa mal assinaladas aceitam-se, pois joga-se a grande velocidade. No entanto, errar ao minuto oito não é o mesmo que errar ao minuto 38. E é preciso que os árbitros comecem a percebê-lo (se calhar percebem bem de mais e isso é que é triste). Na recta final de um encontro equilibrado, marcar uma falta de equipa ou mostrar um azul devia ser uma decisão muito ponderada, ou seja, na dúvida, seria melhor não marcar e não influenciar o desfecho do encontro, marcando-se apenas os lances evidentes. Ora no hóquei acontece o contrário, principalmente quando são árbitros ávidos de receber as atenções.

Posto isto, o lance do azul mostrado a Ricardo Barreiros (e a João Souto por protestos) a meio da segunda parte quando o encontro estava empatado a três, abre as portas ao golo da vantagem do Benfica quando se verificava um tremendo equilíbrio. Apesar de ter sido uma partida com golos, todos vimos o que aconteceu nos jogos das meias-finais, em que só a bola parada decidiu, ou seja, os jogos que tiveram tremendo equilíbrio foram resolvidos em pequenas situações. A final, principalmente na segunda parte, sofreu do mesmo sintoma.

É verdade que a Oliveirense poderia ter tido outra reacção perante a situação, mas é preciso vermos de que situação estamos a falar. Joga-se uma final europeia - pouca coisa existe acima disso - na casa do adversário que durante toda a partida não se conseguiu superiorizar quando tudo o fazia prever antes do apito inicial. A Oliveirense fez um grande jogo e merecia, no mínimo, ter perdido de outra forma. Por tudo isto, Tó Neves está envergonhado, eu também, e não devemos ser os únicos.

Comentários

Ricky disse…
"No entanto, errar ao minuto oito não é o mesmo que errar ao minuto 38. E é preciso que os árbitros comecem a percebê-lo (se calhar percebem bem de mais e isso é que é triste). Na recta final de um encontro equilibrado, marcar uma falta de equipa ou mostrar um azul devia ser uma decisão muito ponderada". as regras falam em altura certa para marcar faltas ? Uma má decisao é uma má decisao e nao ha altura melhor ou pior para a tomar
Anónimo disse…
Coitado. Como este dragarto não ganhou nada, vem falar de empurrões! Tivessem mais cabecinha e iam a algum lado. Quando um descamba, vão todos atrás. Viu-se na reação do próprio Puigbi. Por favor amigos, existiu de tudo no jogo. Até quem enviasse agua a um dirigente da CERH. E depois falam de empurrões. Soubessem se controlar em vez de se portarem como crianças
Roger disse…
Meia final de sonho? Acho que Forte de Marmi foi prejudicado, no golo do 3-2 nao existe penalty, e depois quanda e falhado, manda repitir.. O guarda redes nao mexeu!

O resto, concordo contigo Um Abraco.
Anónimo disse…
Estive no pavilhão e o penalti foi bem repetido porque o defesa do forte saiu da área antes do tempo. O problema é que as televisões não focam isso. Diogo Pereira
Por Pedro Caldas disse…
Verdade. Uma má decisão é sempre uma má decisão e vice-versa. Mas uma má decisão ao minuto 8 ou ao minuto 38 tem impactos diferentes na partida. Daí que diga, na recta final do encontro, é preciso ter mesmo a certeza quando se marcam as faltas e dão-se os azuis. Os árbitros devem ser sensíveis ao jogo desde que actuem de igual forma para os dois lados. Espero ter ajudado a esclarecer. Cumprimentos e obrigado pelo comentário.
Anónimo disse…
Foi uma grande Final 4. Não há necessidade de manchar o brilhantismo desta conquista só pelo Anti-Benfiquismo.
Com todo o respeito pela opinião vertida no artigo, não posso deixar de expressar o meu desacordo relativamente à ideia de que a arbitragem espanhola será a melhor do mundo. Muito sinceramente, considero os critérios dos árbitros espanhóis, no geral, pelo menos depois da implantação das novas regras, péssimos e prejudiciais ao hóquei. O critério de marcar uma falta de equipa por um mero toque no adversário que não provoca desequilíbrio ou perda de bola é absurdo e contraria a própria identidade do hóquei em patins, que será sempre um jogo de contacto físico inevitável (ou não fosse o facto de a mobilidade ser garantida sobre rodas). Vi os três jogos, um dos quais no pavilhão, e estou em condições de dizer que a pior arbitragem foi mesmo a espanhola. É certo que não teve decisões tão escandalosas como as outras duas, mas a quantidade de erros de arbitragem foi muito superior. Recordo, em particular, o lance do primeiro azul ao jogador da equipa da Oliveirense e uma grande penalidade assinalada contra o Forte, entre muitas faltas de equipa assinaladas de modo disparatado, apenas por desespero em conseguir o centro das atenções. Aliás, atribuo o facto de se atribuir muito a (falta de) qualidade dos árbitros à respectiva nacionalidade ao desconhecimento profundo do hóquei em patins. Sendo uma modalidade que passa cada vez menos em televisão, nota-se a ignorância de muitos de comentadores, repórteres e outros intervenientes (basta atender ao facto de termos comentadores, quer na RTP, quer na A Bola TV, que nem as regras conhecem, apesar de um deles ter sido um jogador histórico da modalidade). Tornou-se habitual a repetição de lugares comuns para auxiliar o comentário aos jogos, afirmações que já não correspondem necessariamente ao contexto actual do hóquei. E a afirmação "os árbitros são maus porque são franceses/suíços/etc" é uma das afirmações que já não faz grande sentido. Lembro-me da final do Mundial de 2011, em que Portugal foi espoliado da hipótese de estar na final pela arbitragem, num dos mais escandalosos jogos de hóquei a que assisti. Os comentadores fartaram-se de atribuir as culpas ao árbitro suíço, que supostamente teria prejudicado Portugal pela sua falta de experiência, quando quem viu o jogo viu perfeitamente que foi o árbitro espanhol, senhor presente na meia final entre a UDO e o Forte, que tomou as decisões mais desavergonhadas e prejudiciais para Portugal.

Com isto só queria dizer que não devemos ir pelo argumento "é mau porque não é espanhol/português/italiano". A arbitragem francesa, não fosse aquele lance vergonhoso que pretendeu favorecer o Benfica, foi globalmente positiva. Do mesmo modo, os árbitros italianos exibiram-se a um nível razoavelmente bom, não fosse novamente a chocante decisão de oferecer uma grande penalidade a 3 minutos no final para ajudar a equipa da casa. Já os espanhóis, embora sem erros tão determinantes do resultado final, foram, na minha opinião, a equipa mais fraca. Em relação às três equipas de arbitragem, só tenho a elogiar a circunstância de terem punido quase sempre as simulações de falta, algo que só tem estragado o espectáculo desde as novas regras.

Uma nota final só para dizer que, apesar de a arbitragem ter favorecido o Benfica nos dois jogos, a Oliveirense perde por demérito próprio, uma vez que não soube, como infelizmente sucede muito com as equipas do norte, ter o sangue frio necessário para resistir aos nervos. Bastaria ter reagido com maior serenidade ao lance do azul ao Barreiros, o guarda-redes defenderia o livre directo e seria perfeitamente possível aguentar os dois minutos com menos um, como sucede tantas vezes. Em vez disso, perderam a cabeça e entregaram a final ao Benfica.
Anónimo disse…
Excelentissimo anonymous dar a sua opiniao de forma pertinente todos tem o direito. Aqui ninguem veio insultar, provocar ou simplesmente mandar abaixo qualquer feito.
Apos ler o artigos e outras opinioes, es o unico que veio aqui realmente dar o mote de "ou sao do benfica ou estao contra" e mandar alguns bitaiques... Tenho pena disso e das pena.
Todas as opinioes sao validas e RESPEITAVEIS, concordem ou nao, mas também devem RESPEITAR.
Em termos de preferencia clubistas, sejam Benfiquistas e nao benfiquistas, sejam jogadores, ex jogadores e treinadores, todos manifestaram a mesma opiniao ate a data... O brilhantismo que falas do benfica acabou no momento do azul ao Ricardo Barreiros...
Um clube de todo, que teve todo o merito e brilhantismo chegou onde chegou nao tinha a necessidade de ganhar da forma que ganhou. Estava a ser uma partida muito boa, e aquilo estragou todo um espectaculo.
Aqui ninguem em termos de opinioes manifestou Anti Benfiquismo.
Por Pedro Caldas disse…
Obrigado pelo excelente comentário. De facto, compreendo muito do que escreveu, nomeadamente: 1) os árbitros espanhóis exageram nas faltas marcadas pelos pequenos toques. 2) os comentadores, muito longe da realidade da modalidade, usam sempre a nacionalidade como moleta. 3) a arbitragem da final foi globalmente positiva. 4) a nacionalidade não deve seleccionar árbitros.

Quando ao segundo ponto concordo inteiramente mas quanto aos restantes, é preciso ver o seguinte:

1) os árbitros espanhóis marcam muitas faltas pequenas, muitas vezes desnecessarias e que param o jogo, no entanto, são, na minha ideia, aqueles que melhor noção têm dos toques que realmente são falta ou não. As grandes penalidades a favor da Oliveirense contra o Forte são, a meu ver, bem assinaladas, quando talvez não o pareça porque ninguem caiu ao chao.

3) Nao digo que a arbitragem da final tenha sido a pior, mas coloco-lhe a seguinte questao: voce é arbitro e faz uma arbitragem espetacular em 40 minutos, o jogo esta 3-3, ao minuto 41 o jogador toca no stick de outro a meio-rinque e voce da azul, permitindo a outra equipa fazer o golo da vantagem. Acha que é uma boa arbitragem? Eu penso que uma boa arbitragem deve ser equilibrada acima de tudo, e não fazer uma grande exibiçao 40 minutos e estragar tudo nos outros 10.

4) Foi escrito no artigo que agora comentamos que ser suíço ou francês não significa que não pode arbitrar uma final, agora, penso estarmos todos de acordo que o nível desses campeonatos é inferior e como tal a tarimba assimilada pelos arbitros tambem nao pode ser a melhor. Daí dizer, no artigo, que é aceitavel que os arbitros suiços, franceses, etc apitem o jogo quando já deram provas de que estao aptos para tal, assim como qualquer outra equipa de arbitragem italiana ou iberica. Desta dupla francesa nunca vi uma arbitragem que me chamasse a atençao. Por exemplo aquela sra arbitra angolana que teve no mundial 2013 pareceu-me bastante competente e conhecedora da modalidade, mereceria uma final deste nivel, a meu ver.

Muito obrigado pelo comentario muito pertinente. Cumprimentos.
E.M.Antunes disse…
Não é só à UDOliveirense que é devido um pedido de desculpas pela forma como acabou derrotada é também ao SLBenfica pela forma como ficou manchado o seu triunfo e sobretudo ao hóquei em patins que ficou ferido na sua credibilidade ao vivo e em direto!
Por Pedro Caldas disse…
Totalmente de acordo E.M.Antunes. Obrigado pelo comentário, cumprimentos
Anónimo disse…
A VERGONHA DA TAÇA DE PORTUGAL EM HOQUEI NINGUÉM SE MANIFESTOU, POIS É NORMAL, O BENFICA PERDEU E NÃO HÁ NADA QUE FALAR DA ARBITRAGEM! DESDE UM GOLO DO BENFICA ANULADO E TRANSFORMADO EM DOIS CARTÕES AZUIS PARA O BENFICA NA MESMA JOGADA!POIS AÍ É QUE ESTÁ BEM NÃO!É SÓ JUSTICEIROS DE FALINHAS MANSAS... IDE VOS DEITAR MAIS ESSA TRETA VERDADE DESPORTIVA, JÁ PARECEM O FACCIOSO DO RUI SANTOS...