Planear, ganhar ou arriscar? Uma década de primeira divisão


Este artigo visa a análise ao planeamento dos clubes segundo os seus objetivos. Foram analisadas as últimas dez épocas (de 08/09 à presente temporada). Os objetivos estão divididos em três partes: clubes que lutam pelo título, clubes que lutam pelo quinto lugar e clubes que lutam pela manutenção na primeira divisão. De acordo com cada objetivo, analiso as opções de cada clube e os respetivos resultados obtidos. É por isso que esta análise não serve para prever sucessos mas sim para criar um corpo daquilo que cada clube fez para alcançar os objetivos, assim como tempo dado aos treinadores para chegar às respetivas metas.

Mais, tomando como natural que a frequência no alcançar dos objetivos é a grande meta e, tomando por consequência que a equipa que ganha raramente se deve mexer (FC Porto é talvez o único exemplo contrário a esta tese, ao substituir o deca-campeão Franklim Pais por Tó Neves), iremos também ver quem tem e quem não tem ‘acertado’ tanto nos atletas como nos timoneiros. Será a análise entre o longo e o curto prazo, entre aqueles que querem tudo e ficam sem nada e aqueles que sabem o querem, entre aqueles que têm noção da sua altura e aqueles que nunca se mediram, e entre os que preferem estar lá sempre do que apostar forte para 15 minutos de fama. Novamente aviso, esta análise não serve para prever mas sim para concluir.

Entre 2008/2009 e 2017/2018
CLUBE
Presenças na 1ª Divisão entre 08/09 e 17/18
Percentagem de juniores ou ex-juniores no plantel de 10 elementos no início da época
Percentagem de contratações (juniores e ex-juniores incluídos)
Número de treinadores (ao início da época) / em parenteses média de treinadores por época
Títulos/Quinto lugar ou acima
CANDIDATOS AO TÍTULO
FC Porto
10
0% (0)
14% (14)
3 (1/3.3)
5
Benfica
10
2% (2)
25% (25)
3 (1/3.3)
3
Oliveirense
10
4% (4)
33% (33)
4 (1/2.5)
0
Sporting
6
1.66% (1)
46% (28)
3 (1/2)
0
CANDIDATOS AO QUINTO LUGAR
OC Barcelos
10
8% (8)
39% (39)
4 (1/2.5)
2
Candelária
9
1.11% (1)
27.77% (25)
6 (1/1.5)
4
Juv. Viana
9
6.66% (6)
33.33% (30)
5 (1/1.7)
3
CANDIDATOS À MANUTENÇÃO/CONSOLIDAÇÃO NA PRIMEIRA DIVISÃO
Valongo
10
13% (13)
34% (34)
2 (1/5)

Braga
8
8.75% (7)
42.5% (34)
4 (1/2)

Paço de Arcos
8
3.75% (3)
36.25% (29)
6 (1/1.3)

Física
6
4% (2)
24% (12)
2 (1/3)

Turquel
6
6.66% (4)
25% (15)
2 (1/3)

Gulpilhares
5
24% (12)
40% (20)
3 (1/1.7)

Cambra
5
6% (3)
26% (13)
3 (1/1.7)

AA Espinho
4
7.5% (3)
32.5% (13)
3 (1/1.7)

Tomar
4
0% (0)
30% (12)
1 (1/2)

Tigres
3
20% (6)
73% (22)
3 (1/1)

Carvalhos
3
6.66% (2)
33% (10)
2 (1/1.7)

Portosantense
3
10% (3)
43.33% (13)
3 (1/1)

Sanjoanense
3
10% (3)
33% (10)
2 (1/1.7)

Oeiras
2
0% (0)
35% (7)
1 (1/2)

Limianos
2
10% (2)
35% (7)
2 (1/1)

Riba D’Ave
2
10% (2)
30% (6)
2 (1/1)

Infante Sagres
2
20% (4)
45% (9)
2 (1/1)

Valença
2
0% (0)
40% (8)
2 (1/1)

Nortecoope
1
0% (0)
40% (4)
1 (1/1)

Cascais
1
10% (1)
50% (5)
1 (1/1)

Mealhada
1
0% (0)
0% (0)
1 (1/1)

Grândola
1
0% (0)
0% (0)
1 (1/1)

Póvoa
1
0% (0)
40% (4)
1 (1/1)


Este quadro é árabe. Deve ler-se da direita para a esquerda, ver quem tem mais títulos ou mais quintos lugares e a partir daí ver a continuidade dos números no lado esquerdo. Nos primeiros quatro clubes (candidatos ao título), temos o FC Porto como o clube com maior sucesso nos últimos dez anos. É verdade que a Oliveirense e o Sporting só mais recentemente se podem incluir neste leque, ainda assim, olhando só entre Benfica e FC Porto, verificamos que quem menos mexe e mais experiência tem, mais ganha (FC Porto com 14 contratações e 0% de atletas juniores ou ex-juniores nos dez elementos que compõem o plantel). Ao nível dos treinadores a teoria é a mesma, longevidade é a palavra de ordem, sendo FC Porto e Benfica os dois clubes com mais durabilidade de técnicos, só ultrapassados pelo Valongo (dois treinadores em dez anos). Do outro lado, os que mais mexem, quer em jogadores quer em treinadores, ainda não obtiveram qualquer título nacional (Oliveirense e Sporting).

Descendo à segunda metade da tabela (candidatos ao quinto lugar), a teoria é a mesma. Mais experiência + menos mexidas de jogadores: mais sucesso. É o caso da Candelária. A única situação que não combina com a primeira metade do quadro é a média de treinadores por época dos açorianos (um treinador por época e meia). Claro que está que, quer na primeira quer nesta metade do quadro, acabando-se o dinheiro acaba-se o palhaço. Também aqui a Candelária é exemplo, estando agora na segunda divisão. A Juventude está nos mesmos parâmetros, ao contrário do Barcelos (dos três foi o que teve menos sucesso) que, apesar de realizar um investimento ao nível da luta pelo quinto lugar, também não descora a possibilidade de manter a estabilidade do projeto se o investimento financeiro reduzir. Esta teoria é explicada na percentagem elevada de inclusão de juniores e ex-juniores na equipa principal, representando 8% do total dos plantéis que formou (só ultrapassado por Valongo, Braga e Gulpilhares, no que diz respeito a clubes com, pelo menos, cinco participações na última década).




Quanto à terceira metade do quadro, as prioridades são bem diferentes. A estabilidade continua a ser, naturalmente, o resultado do sucesso, mas as razões que originam o mesmo diferem. Este quadro apresenta clubes com menos poderio financeiro e que, como tal, ou apostam na prata da casa e na formação para atingir os objetivos ou optam por ter 15 minutos de fama, investindo um pouco mais durante algumas épocas mas sem qualquer perspetiva de longo prazo. Neste quadro, o grande vencedor, o grande exemplo para 95% dos clubes em Portugal é o Valongo, de longe. Pleno de presenças na primeira divisão na última década, maior percentagem de lançamento de jovens (13%) entre os clubes com pelo menos seis épocas na última década, dois treinadores na última década, obtendo a melhor média de treinadores por época: um por cada cinco. É um trabalho que, quer Barcelos quer Braga, também estão a apresentar neste momento, a diferença é que o Valongo já apresenta há mais anos. Não é por acaso que o Barcelos contrata Paulo Pereira (mentor do projeto em Valongo) e também não é por acaso que o Vítor Silva está em Braga há quatro épocas. Estes clubes querem sustentabilidade do projeto acima de tudo. Acreditam que a sua representação na primeira divisão será permanente e sem financiamentos tão elevados, apostando portanto na constante regeneração do plantel (reduzida, um a dois juniores por época) através da formação. Óbvio que a sua formação tem de ser muito bem trabalhada e também não pode ser abruptamente ‘roubada’. O próprio Vítor Silva, no caso do Braga, está bem inserido nela desde há vários anos.

Comparando com as duas primeiras metades do quadro, há duas diferenças. A primeira é a maior percentagem de jovens (inclusão permanente de jovens no plantel tem ajudado à continuidade do sucesso em Valongo) e a segunda é a maior percentagem de mexidas no plantel. É normal e inevitável, estamos a falar de clubes com menos poderio financeiro e, como tal, com menos possibilidade de segurar os jogadores de qualidade. E até aqui conseguimos ver o trabalho notável do Valongo que continua a apresentar, umas vezes mais outras vezes menos, um plantel que lhe dá garantias de atingir o objetivo da manutenção na primeira divisão. Chama-se formação e a aposta na mesma. Os clubes dos 15 minutos de fama fazem precisamente o contrário. Investem um pouco mais nos seniores, formam um grupo de trabalho experiente (porque já vimos que a experiência também traz sucesso, não traz é continuidade quando o dinheiro reduzir) e depois têm dois fins, ou caem abruptamente ou continuam a ser alimentados pelo financiamento, de forma a substituir experiência por experiência.

Oeiras, Física, Paço de Arcos, Cambra e Turquel são, para mim, esse exemplo, ainda que o projeto em Turquel iniciado por João Simões tenha tido uma perspetiva semelhante aos clubes mencionados acima, contudo neste momento, na minha opinião, a vertente tenha mudado para os 15 minutos de fama. Clubes com boa formação mas que não contam tanto com ela nos seniores porque preferem lutar pelo sexto, sétimo, oitavo lugar (exemplo) do que lançar jovens quando a manutenção está garantida. Lançar jovens só por si não é sinónimo de sustentabilidade, a qualidade dos mesmos também é essencial, mas para isso ajudaria igualmente mais empenho na formação e maior margem de erro na competição. E mais, no quadro podemos verificar que Física, Turquel e Cambra têm uma percentagem de mexidas do plantel abaixo do 30%. Abaixo deste número só FC Porto, Benfica e Candelária. Significa que o esforço financeiro feito por estes clubes é maior que a média (manutenção de jogadores é sinal que há investimento) e/ou que os jovens presentes no plantel não representam valor tão acrescentado para justificar uma mudança para um clube com maior investimento.




Quanto aos outros clubes, de mencionar alguns meramente aventureiros e sem qualquer projeto de longo prazo (Valença por enquanto, Portosantense, Tigres e Cascais) e outros cuja primeira divisão não está nos seus objetivos, sendo que qualquer presença na mesma já é uma vitória (Grândola, Mealhada, Carvalhos, Espinho, Riba D’Ave, Sanjoanense, Póvoa, Nortecoope, Infante Sagres, Limianos). Quanto ao Sporting de Tomar e Gulpilhares, o primeiro está com um projeto semelhante ao do Turquel (na sua fase inicial, com João Simões), ou seja, formação de uma equipa jovem mas capaz na segunda divisão e consequente subida com a mesma espinha dorsal, mudando cirurgicamente ano após ano. Será, na minha opinião, um clube modelo daqui a alguns anos caso continue este caminho. O Gulpilhares, clube que hoje nos diz pouco mas que já foi o baluarte dos clubes formadores, é uma situação singular, onde a formação sempre foi prioridade mas, ainda assim, a falta de financiamento gerou a desorganização total da equipa sénior.

Um olhar sobre os treinadores
Analisando a atualidade da primeira divisão, verificamos no quadro abaixo que os clubes com ambições ao título apostam em treinadores experientes na primeira divisão (à exceção do FC Porto). Nos candidatos ao quinto lugar a situação é diferente. Barcelos, Valongo e Juventude de Viana parecem agora começar um projeto duradouro com Paulo Pereira (ainda assim um dos mais experientes mas apenas há um ano em Barcelos), Miguel Viterbo (terceira época) e Renato Garrido (segunda época). De resto, Nuno Manel Domingues e Vítor Silva são os únicos técnicos mais ‘justificados’, estando o primeiro na sua quinta época em Tomar e o segundo na quarta, de forma consecutiva. Nando Graça (Valença), Jorge Godinho (Turquel), Luís Duarte (Paço de Arcos), Fernando Almeida (Infante Sagres) e Quim Zé (Grândola, já abandonou o clube) estão no ‘ano zero’. Em suma, importa referir que os clubes primo-divisionários têm melhorado substancialmente os seus planeamentos e a estabilidade tem sido prova disso (apenas um técnico despedido, Quim Zé, do Grândola).

Treinadores por época
Treinador
Épocas
Clubes
Tó Neves
10
FC Porto (4), Oliveirense (6)
Pedro Nunes
8
Benfica (5), Paço de Arcos (2), Candelária (1)
Paulo Pereira
8
Valongo (7), Barcelos (1)
Vítor Silva
7
Braga (5), Barcelos (1), Candelária (1)
Paulo Freitas
7
Barcelos (4), Espinho (2), Sporting (1)
Vítor Fortunato
6
Física (5), Oliveirense (1)
Paulo Garrido
6
Paço de Arcos (4), Oeiras (2)
José Querido
4
Barcelos (2), Portosantense (1), AJ Viana (1)
Hugo Gaidão
4
Sporting (2), Candelária (1), Cascais (1)
Luís Sénica
4
Benfica
Pedro Sampaio
4
AJ Viana
Nuno Resende
3
Oliveirense
Guillem Cabestany
3
FC Porto
Franklim Pais
3
FC Porto
Carlos Dantas
3
Candelária (2), Benfica (1)
Nuno Lopes
3
Sporting (2), Tomar (1)
Miguel Viterbo
3
Valongo
Tiago Resende
3
Candelária
José Fernandes
3
Barcelos (2), Cambra (1)
Nuno Manel Domingues
3
Tomar
Ricardo Geitoeira
3
Cambra
Fernando Almeida
3
Gulpilhares (2), CI Sagres (1)
Francisco Silva
2
Gulpilhares (2)
Vítor Pereira
2
Sanjoanense
Carlos Realista
2
Espinho, Gulpilhares
António Gomes
2
Nortecoope, CI Sagres
Rui Sérgio Teixeira
2
Limianos, Braga
André Torres
2
Braga
Rui Fernandes
2
Carvalhos
Renato Garrido
2
AJ Viana
André Gil
2
Física, Paço de Arcos
Jorge Godinho
1
Turquel
Paulo Barreira
1
Cambra
Filipe Gaidão
1
Tigres
Pedro Nifo
1
Tigres
João Miguel
1
Candelária
Luís Duarte
1
Paço de Arcos
Pedro Neto
1
AJ Viana
Rui Neto
1
AJ Viana
Paulo Baptista
1
Candelária
Guillem Pérez
1
Sporting
Vasco Vaz
1
Mealhada
Quim Zé
1
Grândola
Carlos Silva
1
Póvoa
Luís Canelas
1
Espinho
Horácio Ferreira
1
Riba D’Ave
Diogo Pereira
1
Riba D’Ave
Nando Graça
1
Valença
Paulo Morais
1
Valença
Pedro Mendes
1
Limianos
Paulo Alves
1
Sanjoanense
Nélson Lourenço
1
Tigres
Zé Carlos Califórnia
1
Portosantense
Carlos Pires ‘Capi’
1
Portosantense
Rui Batista
1
Carvalhos

Outros dados sobre a última década da primeira divisão

Treinadores por clube


08.09
09.10
10.11
11.12
12.13
13.14
14.15
15.16
16.17
17.18
FC Porto
F. Pais


Tó Neves



Guillem Cabest.


Benfica
Carlos Dantas
Luís Sénica



Pedro Nunes




Oliveire.
Tó Neves


Nuno Resende


Vítor Fortun.
Tó Neves


Sporting




Hugo Gaidão

Nuno Lopes

Guillém Pérez
Paulo Freitas
OC Barcelos
Vítor Silva
José Fernand.

José Querido

Paulo Freitas



Paulo Pereira
Candelá.
Pedro Nunes
Paulo Baptista
Carlos Dantas

Vítor Silva
Tiago Resende e J. Miguel
Hugo Gaidão
Tiago Resen.


Juv. Viana
Rui Neto
José Querido
Pedro Neto
Pedro Sampaio




Renato Garrido

Valongo
Paulo Pereira






Miguel Viterbo


Braga
Rui Sérgio Teixeira
Vítor Silva


André Torres


Vítor Silva


Paço de Arcos

Pedro Nunes

Paulo Garrido
Pedro Nunes
André Gil
Paulo Garrido


Luís Duarte
Física

Vítor Fortuna.





André Gil


Turquel




João Simões




Jorge Godin.
Gulpi
F.
Almeida

Francisco Silva

Carlos Realista





Cambra
José Fernan.

Paulo Barreira

Ricardo Geitoei.





Espinho

Paulo Freitas

Carlos Realista
Luís Canelas





Tomar


Nuno Lopes


Nuno Manel Doming.




Tigres



Nélson Lourenço
Filipe Gaidão

Pedro Nifo



Carvalh.
Rui Batista




Rui Fernan.




Portosa.
Carlos Pires ‘Capi’
Zé Carlos
José Querido







Sanjoan.






Vítor Pereira

Paulo Alves

Oeiras
Paulo Garrido









Limianos


Pedro Mendes

Rui Sérgio Teixeira





Riba D’Ave



Horácio Ferreira




Diogo Pereira

Infante Sagres



António Gomes





F. Almeida
Valença








Paulo Morais
Nando Graça
Norteco.
António Gomes









Cascais


Hugo Gaidão







Mealha.





Vasco Vaz




Grândola









Quim Zé
Póvoa






Carlos Silva





Número de atletas ex-juniores ou ainda juniores nos plantéis da primeira divisão no início da época (incluídos no plantel de 10 elementos)


Nº atletas
08/09
09/10
10/11
11/12
12/13
13/14
14/15
15/16
16/17
17/18
17










16










15










14










13










12










11










10










9










8










7










6










5










4











Número de jogadores estrangeiros

Nº atletas
08/09
09/10
10/11
11/12
12/13
13/14
14/15
15/16
16/17
17/18
26










25










24










23










22










21










20










19










18










17










16










15










14










13










12










11










10










9










Comentários

Unknown disse…
Nao percebo porque o Valongo não esta no lote dos clubes que lutam pelo quinto lugar e muito menos porque não esta indicado o titulo de campeão da I divisão.