BENFICA V SP. TOMAR

Foto: www.maisribatejo.pt


Benfica -
 P. Henriques (50m),
 N. Roca (42m), R. Benedetto (42m), L. Ordóñez (28.45m), G. Pinto (27m30), P. Manrubia (25m), C. Nicolia (14m), D. Rafael (12m45) e Zé Miranda (8m).

Sp. Tomar - A. Marante (50m), 
G. Silva (40m30), P. Martins (39m45), F. Almeida (34m), A. Centeno (24m45), Tato F. (24m)Xanoca (24m30) e G. Neto (12m30).

ESTATÍSTICA

Superioridades numéricas:
Benfica - 8 (1 4x3, 3 2x1, 4 1xR)
Sp. Tomar - 6 (2 4x3, 2 3x2, 2 2x1)

Roubos de bola:
Guilherme Silva e Xanoca (5)
Nil Roca (4)
Nicolia (3)

Perdas de bola:
Ordóñez (5)
Tato e Benedetto (4)
Manrubia e Xanoca (3)

Remates com direção na baliza (1ª Parte/2ª Parte)

Dentro de área em passe:
Benfica - 5/1
Sp. Tomar - 2/5

Dentro de área com condução de bola:
Benfica - 5/6
Sp. Tomar - 2/4

Fora de área:
Benfica - 7/5
Sp. Tomar - 9/4


PRIMEIRA PARTE
BENFICA

Defesa - Em apoio, mais agressiva no portador da bola.

Ataque - Mistura perfeita entre o 1x1 e a abertura de espaços através de bloqueios. Boa interpretação da defesa contrária que, ao descer em bloco quando o Benfica tinha a posse em zonas próximas à baliza nabantina, libertava espaço na zona dos médios. Esta variação das zonas da bola criou dificuldades defensivas, pois com circulação rápida de bola e por zonas distintas do rinque, oscilou bastante o posicionamento defensivo do Sp. Tomar, sempre em reação e não em antecipação. Ataque muito bem conseguido pelo Benfica no primeiro tempo.

SP. TOMAR
Defesa - Em apoio, ativa mas de uma forma individual e não em bloco.

Ataque - Processos muito robotizados, limitando a leitura de jogo e das melhores opções para os casos concretos. Excesso de meia-distância, dando por um lado mais segurança às transições defensivas. Maus timings para os bloqueios, seja no ato em si, seja na decisão de os fazer (ver em detalhe em baixo). Este tema dos bloqueios acabou por nem dar opções viáveis para o remate devido aos maus timings de passe e de saída do bloqueio, nem por dar opções viáveis para o 1x1.


Exemplo de um 3x2 robotizado. Guilherme tomou a opção sem ter lido a situação de jogo.


Pedro Martins consegue espaço 'sem querer' e não o aproveita porque foi fiel à ideia do carrossel e, apesar de desmarcado e numa boa posição para receber a bola e atacar a baliza, voltou para trás. Faltou interpretação da situação. Improviso.

SEGUNDA PARTE
BENFICA

Defesa - Em apoio, mais passivo.

Ataque - Menos 1x1, mais circulação de bola, ainda que sem controlo do jogo nos primeiros 15 minutos, ou seja, pouca posse de bola e ataques pouco incisivos.

SP. TOMAR
Defesa - Defesa muito ativa e em bloco, menos apoiada no sentido de encontrar mais transições para reverter o resultado negativo. Tanto na primeira como na segunda parte, ao contrário do ataque, tema defensivo muito bem conseguido por parte do Sp. Tomar.

Ataque - Mais procura de colocação de bola na referência da área, dando mais lógica ao ataque organizado que estava muito refém da meia-distância no primeiro tempo. Tema dos bloqueios descrito na primeira parte repetiu-se.

OUTRAS NOTAS
Espaço para o 1x1

Considero que o hóquei é um desporto primeiro individual e só depois coletivo. Quero dizer com isto que, se a minha equipa é mais forte no 1x1 defensivo ou ofensivo, permite-me não precisar de apoios defensivos (ajudas ou compensações) ou ofensivos (bloqueios ou passe). Foi neste capítulo que vi a grande diferença entre as equipas. Um Benfica mais forte no 1x1 e taticamente mais interessado em fazê-lo.

O Benfica consegue, com a circulação rápida da bola e variando o posicionamento dos jogadores sem bola, ora fazendo bloqueios ora alargando o rinque (posicionamentos mais próximos das tabelas), deixar espaço para os criativos (Ordóñez, Nicolia, Benedetto, principalmente) para que façam a diferença em 1x1.


1 - Colegas de equipa deixam espaço a Ordóñez para o 1x1.


2 - Colegas de equipa deixam espaço a Gonçalo Pinto para o 1x1.


3 - Colegas deixam espaço a Ordóñez para o 1x1

O Sp. Tomar não o faz. Os jogadores sem bola procuram constantemente o bloqueio, trazendo sempre confusão para o sítio onde a bola está. Sobra pouco espaço para os criativos fazerem o 1x1 e em lances coletivos acho mais difícil criar perigo.


1 - Força o bloqueio e não deixa espaço para o 1x1.


2 - Força o bloqueio e não deixa espaço para o 1x1. Além disso, portador da bola não aproveita entrada do bloqueador.


3 - Portador da bola não aproveita entrada do bloqueador.


4 - Bloqueador tira espaço ao 1x1.


Outra diferença tem a ver com o sítio de onde o passe para o criativo sai. o Benfica procura com mais frequência levar o jogo para o último terço e daí fazer o passe para o criativo que se encontra mais recuado. Isto faz com que a defesa tenha de oscilar muito mais: para fazer ajudas no último terço, daí voltar à zona média do rinque quando o passe surge para trás e voltar novamente ao último terço para acompanhar o portador da bola (em baixo).


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Um dos poucos exemplos positivos de libertação para o 1x1 por parte do Sp. Tomar é aquilo a que eu chamo o Y, um processo muito utilizado por Nuno Lopes, já há alguns anos. Liberta espaço de corredor para o 1x1 ou transporte de bola para assistência ao jogador da área. O elemento colocado na marca de livre direto é importante que não desça antes de tempo porque, se o fizer, permite que o seu defensor direto faça ajuda ao defesa que está com o portador da bola.


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Bloqueios
Como escrevi em cima, o Sp. Tomar teve maus timings de bloqueio. Considero que um bloqueio direto (isto é, bloqueio que ajude o portador da bola a ter soluções) terá sucesso garantido se for feito pelo jogador que segundos antes tinha a bola no stick e não um jogador que vem de Chaves a Faro, sem bola, para fazer um bloqueio ao defesa do portador da bola. Isto porque o foco da defesa está sempre no portador da bola. Se o portador é X, que passa a Y e um segundo depois X já está a bloquear, falamos de toda uma mudança de paradigma num curto espaço de tempo que torna difícil o raciocínio à defesa, criando uma situação de reação e não de antecipação do ato.

Agora, se X passa primeiro para Y e só depois é que arranca para bloquear, conseguindo o bloqueio três ou quatro segundos depois do passe, vai dar tempo suficiente à defesa para mudar o foco e antever em vez de reagir.

Na minha opinião, primeiro arranco, só depois passo e depois bloqueio, e não: passo, arranco e bloqueio.


No vídeo em cima, Centeno passa e só depois arranca para bloquear.


Pedro Martins faz igual. Passa primeiro e só depois arranca para o bloqueio.


Além disso, as saídas do bloqueio muitas vezes foram feitas demasiado cedo e acabaram por facilitar a tarefa defensiva, assim como as saídas feitas a horas também raramente foram aproveitadas pelo portador da bola para colocar a bola no jogador que havia feito o bloqueio e que, com este movimento, havia ganho espaço para receber a bola em boa posição.


Em cima, Guilherme Silva vê o bloqueio de Xanoca e como nem tem espaço para ganhar velocidade para o 1x1, quer aproveitar o bloqueio do colega, mas este sai do bloqueio demasiado cedo e 'obriga' Guilherme a cancelar a iniciativa.


Não é que o Benfica tenha sido muito melhor neste capítulo, mas fica aqui um bom exemplo de um bloqueio, não pelas razões que descrevi no início deste tema mas pelo sítio de onde partiu o passe, oscilando desde logo a defesa a várias mudanças de posicionamento (virar patins para o último terço, depois virar para o meio-rinque após o passe e virar de novo para o último terço após o arranque com bola do portador, tornando difícil antever o bloqueio tantas que foram as mudanças de foco nos últimos segundos).


Em cima, lance do primeiro golo. Filipe Almeida não tem Roca no horizonte, tem de mudar a posição corporal para este, depois para Benedetto quando este recebe o passe e não tem tempo para pensar no bloqueio logo de seguida. Além disso, o Benfica coloca dois elementos na área que retiram as ajudas ao defesa de Benedetto, deixando-o em claro 1x1 e numa situação ofensiva de 3x3, disponibilizando mais espaço ao portador da bola.


Em cima, meio termo entre bloqueio e espaço para o 1x1. No entanto, vendo que houve 1x1, o bloqueador dá logo alternativa de passe ao portador.

Em baixo uma má interpretação de Manrubia, deveria ter deixado espaço para Benedetto fazer 1x1 em vez de lhe dar opção de bloqueio. Benedetto, percebendo que não lhe foi dado pelo colega, também não deveria ter insistido no 1x1.



Tomada de decisão no 1x1 para o lado contrário ao stick do defesa

Um pormenor que será frequente nas análises às equipas de primeira divisão. Finta ou arranque com bola sempre feito para o lado contrário do stick do adversário.


Xanoca.


Nil Roca.


De novo Nil Roca.


Tato.


Em baixo um exemplo contrário. Finta para o lado do stick... Normalmente dá mau resultado.




O único em rinque que de facto teve sucesso em 1x1 para o lado do stick adversário foi Benedetto. Consegue esperar pelo timing certo em que stick e corpo do adversário já estão muito virados para o lado da mão livre (sem stick). Quando isso acontece, Benedetto arranca para o lado do stick. O adversário sente que já não se consegue posicionar corretamente e tenta, em desespero, sacar a bola. Como não lhe chega e a posição corporal também não favorece a recuperação, fica para trás.


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Direção dos patins no ataque à bola

Um exemplo de má decisão defensiva (para mim até faria sentido se a defesa estivesse numa situação de arriscar o roubo de bola, o que não era o caso pois estávamos no início da partida). O defesa ataca a bola com os patins virados para a baliza adversária. Se não conseguir sacá-la, bem pode começar a rezar para que os colegas o ajudem. Na minha ótica, o ataque à bola só pode ser feito com a mudança da direção dos patins a ser feita em simultâneo, para a direção da nossa baliza, de modo a que, se não sacarmos a bola, consigamos acompanhar na mesma o portador da bola.



Apoio defensivo do Sp. Tomar e respetiva solução (com mérito e bom sentido de interpretação da defesa adversária) do Benfica.

Na minha opinião, bom processo defensivo do Sp. Tomar, ultrapassado com mérito pelo Benfica. Primeiro, mérito do Benfica em conseguir levar a bola para o último terço, mesmo contra uma equipa agressiva a defender. Ao chegar a essa etapa, Sp. Tomar defende com os quatro elementos no último terço de maneira a dificultar a ação encarnada em zonas próximas à baliza. O Benfica, sentindo essa pressão e superioridade numérica verde e branca, volta a colocar a bola a meio-rinque, onde não estão os defesas do Sp. Tomar que haviam acorrido ao último terço do rinque para fazerem a pressão ao portador da bola. Muita oscilação da defesa (que, pelo facto de o Sp. Tomar ser menos forte no 1x1 que o adversário, tem de funcionar com ajudas) e consequente reação, em vez de antecipação.



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Comentários

Este comentário foi removido pelo autor.
Excelente para quem acompanha o hóquei enquanto mero espectador, mas não compreende as técnicas e táticas. Foi interessante perceber algumas técnicas. Parabéns.

Seria interessante também incluir alguns comentários sobre os GR.
Por Pedro Caldas disse…
Obrigado Carlos. Vou registar essa sugestão dos guarda redes e tentar inserir em próximas análises. Um abraço.
Anónimo disse…
No 1º vídeo do "Apoio defensivo do Sporting de Tomar e respetiva solução...", é de realçar a abordagem do Benedetto no 1X1, visto ambos os jogadores serem esquerdinos e fazer o arranque pelo lado do stick.
Boa análise, obrigado pelo trabalho!