BENFICA V PORTO

Benfica: P. Henriques (G), N. Roca, R. Benedetto, G. Pinto, L. Ordóñez, P. Manrubia, C. Nicolia, D. Rafael.

Porto: X. Malián, Rafa C., T. Pinto, H. Nunes, G. Alves, E. Lamas, R. Pujadas, E. Mena, D. Barata

Por defeito da transmissão televisiva que por muitas vezes não colocou o tempo de jogo, não foi possível contabilizar os minutos jogados por cada atleta. Inadmissível como acontece uma falha deste calibre numa transmissão de um jogo de primeira divisão (que aliás já não é a primeira vez pois no jogo da jornada passada entre Oliveirense e Óquei também sucedeu).

Aliás, aproveito para falar de outras externalidades:
1) comentários televisivos - por José Carlos Gaspar e Diogo Nunes (relato), de muito boa qualidade.

2) arbitragem/novas regras. Felizmente, têm-se visto alterações positivas quer na postura dos árbitros - menos minuciosos e deixando jogar mais -, quer nas regras. A utilização dos patins veio trazer muito menos paragens ao jogo e decisões de arbitragem muitas vezes aleatórias e dependentes do critério de cada dupla. O apito nas bolas paradas também veio trazer mais justiça ao trabalho dos guarda-redes e mais simplicidade para a tomada de decisão dos árbitros. 

3) Público/propaganda. Moro perto de Lisboa, tenho 34 anos e sempre me lembro de ver hóquei. Também desde sempre, oiço esta conversa do 'pavilhão esgotado' por parte do Benfica. Inclusive nas primeiras vezes, como não via o pavilhão esgotado, ia até lá sem bilhete, no intuito de o comprar, acabando por bater com o nariz na porta, pois estava 'esgotado'. Nesses dias, tal como neste sábado, esgotado é que não estava. É triste dizerem-te que está esgotado e depois olhas para o jogo através da TV e vês centenas de cadeiras vazias. É um problema que não é de agora e que deveria ser resolvido.

Além disso, a propaganda deste campeonato tem de ser melhorada. Falta publicidade, falta uma estrutura de comunicação canalizada para antevisões e reações ao jogo, para um magazine televisivo semanal com entrevistas, antevisões e resumos das partidas da primeira divisão. Tudo isto tem de partir da organização da prova, Federação de Patinagem de Portugal. É preciso entender que estamos a falar de uma competição rara, em qualquer modalidade, na Europa. Não existem muitas competições, seja de que modalidade for e em que país for, com 90% dos melhores executantes e com cinco candidatos ao título + dois outsiders, fora os restantes clubes também apetrechados de muita qualidade. Trata-se de uma oportunidade soberana de trazer o hóquei ao nível mediático que merece.

Remates dentro de área (Primeira parte/segunda parte)
Benfica: 8/6 (2 golos)

Porto: 9/3

Remates fora da área (Primeira parte/segunda parte)
Benfica: 14/7 (4/1 aproveitando bloqueio) 1 golo

Porto: 15/20 (2/2 aproveitando bloqueio) 1 golo

Remates de primeira
Benfica: 4 (1 golo)

Porto: 1

Superioridades numéricas
Benfica: 6 (4 3x2, 1 2x1, 1 4x3)

Porto: 8 (3 3x2, 3 2x1, 2 4x3)

Roubos de bola no stick:
5 - Rafa C.
4 - L. Ordóñez
3 - H. Nunes

Perdas de bola no stick:
4 - G. Alves e R. Benedetto
3 - L. Ordóñez
2 - C. Nicolia e D. Rafael


As semelhanças
Defesas subidas. Ataques com processos simples: muita meia-distância, bloqueios seguidos de linha de passe do bloqueador, havendo ou o passe ou meia-distância. Muita utilização dos corredores laterais em transporte de bola, quase sempre com ajuda do bloqueio.

Por fim, a preocupação primordial de ambas: posicionamento dos atletas em zonas que permitam a recuperação defensiva a três (mínimo), ou seja, em 4x4, prioridade ao bom posicionamento para transição defensiva, com o terceiro homem a meio do meio-rinque, sendo que, no caso do Porto, mais vezes encostado às tabelas, ao passo que o Benfica coloca este terceiro homem mais vezes no miolo e não nas faixas. Assim, enquanto os atletas do Porto colocados nesta posição, participam no ataque com receção de bola e saída para o 1x1, os atletas do Benfica participam em bloqueios para o homem com bola e em zonas de finalização próximas da entrada da área. Este terceiro jogador é o que equilibra as transições defensivas dos dois clubes.
 
As diferenças
A principal diferença esteve mais na inspiração individual do que no planeamento coletivo. Derivado disso (penso eu), o Benfica acabou por dar mais do que o jogo pedia do que os visitantes, saindo melhor no 1x1, tendo mais capacidade de transporte de bola para zonas perigosas e colocando mais bolas no interior. Os contra-ataques também tiveram melhor interpretação (ver em detalhe mais em baixo).

O Porto, não conseguindo sair no 1x1 tão bem como o adversário, foi optando (em demasia) pela meia-distância e pelo passe longo, ou seja, com menos patinagem do portador da bola, seja em transporte seja em finta. Enquanto Mena, Telmo Pinto, Lamas, Hélder Nunes e Gonçalo Alves tiveram individualmente um dia 'não', Benedetto, Ordóñez, Gonçalo Pinto, Nicolia e Nil Roca, principalmente, tiveram um dia 'sim', e neste tipo de jogos, o detalhe na decisão e a velocidade de execução fazem a diferença. Nesse capítulo, o Benfica foi superior.

A partir do 2-0 favorável, o Benfica mudou a sua postura ofensiva, jogando mais a dois elementos apenas, de modo a ter uma transição defensiva garantida de, pelo menos, dois jogadores e, ao forçar ao máximo o ataque a 45 segundos, fazia com que a maior parte dos ataques terminasse em zona segura, permitindo sempre a recuperação defensiva a quatro elementos e, por consequência, evitando os contra-ataques.

Um resumo de grande parte dos ataques de cada equipa. Um Benfica com mais capacidade de transporte de bola e 1x1, chegando mais vezes ao último terço de rinque. O Porto teve mais dificuldade, acabando por chegar ao último terço de rinque mais em passe e menos em condução de bola, revelando mais dificuldade.


Outras notas
Bloqueios
Qualidade nos bloqueios por parte das duas equipas. Bloqueios com saída e oferta de linha de passe em hora certa. Patinagem com bola seguida de passe e bloqueio (mais difícil para a defesa porque obriga a rápida mudança de foco do lado da bola e, ao mesmo tempo, o jogador que passa a ficar sem bola, oferece opção ao novo jogador com bola, através do bloqueio). Variação entre bloqueios com bola à frente do bloqueador e bola atrás (ver vídeos).


As saídas dos bloqueios. Como foi dito em cima, há uma variação entre o aproveitamento do bloqueio para meia-distância ou o aproveitamento do posicionamento que o bloqueador consegue após sair do bloqueio. Como vemos nos vídeos em baixo, o bloqueador fica sempre bem posicionado para receber porque, na troca de marcação, o novo defesa direto acaba por ficar com o corpo do lado de fora em relação ao novo opositor direto. Defensivamente, é difícil fazer melhor, a única opção passa pela participação defensiva de um terceiro elemento que não esteja a defender nem o bloqueador nem o portador da bola. Em defesas subidas como foi o caso, é difícil fazê-lo. 


Saída do bloqueio para linha de passe


Aproveitamento do bloqueio para meia-distância com bola atrás do bloqueador (o bloqueador está mais perto da baliza do que o portador da bola)


Aproveitamento para meia-distância com bola à frente do bloqueador (o que chamo bloqueio invertido, ou seja, a bola está mais perto da baliza do que o bloqueador)

Bloqueio invertido com linha de passe após bloquear. Rafa fica bem posicionado em relação ao seu novo defesa direto.


Bloqueio de Edu Lamas, saindo para a linha de passe. Neste lance, triangulação em vez de passe direto no bloqueador.


Lance igual ao de cima, mas com passe ao bloqueador. De novo, Edu Lamas.

Bloqueio e bom tempo de saída do mesmo, de Telmo Pinto

Defesa de superioridades numéricas


Há mérito dos dois lados. 3x2 a favor do Porto. O Benfica ataca o portador da bola que se vê obrigado a passar. Após o passe, o segundo jogador do Benfica ataque quem o vai receber. Hélder Nunes, que recebe o passe, apercebe-se dessa situação (muito provavelmente já sabia que iriam saltar ao passe) e passa de primeira para o lado contrário. Pedro Henriques já sabia que era Telmo Pinto que iria finalizar o 3x2, em coordenação com os outros dois defesas, ficando já precavido em termos de posicionamento para quem iria finalizar o contra-ataque. Ou seja, não há uma postura passiva defensiva, esperando pelas opções do Porto. Há uma postura ativa, no sentido de já estar assumido que o Porto vai chegar à baliza, mas chega à baliza pelo stick do jogador (ou do lado) que o Benfica quer. O Porto executa bem o contra-ataque e só poderia ter sucesso com um remate de primeira de Telmo Pinto (que também não era fácil), de forma a apanhar Pedro Henriques ainda posicionado para o lado da bola (mas sabendo que teria de se posicionar para o lado de Telmo Pinto).


Telmo Pinto recebe a bola e inicia o 3x2. Faz o passe para Lamas sem sequer ter analisado a situação que, neste caso, exigia transporte de bola e não passe a Lamas. Isto para mexer com Nicolia, o defesa mais próximo de Telmo Pinto. Ao passar para Lamas, não obrigou o Benfica a mexer-se (já que o passe é para trás). Este passe até poderia fazer sentido se houvesse transporte de bola primeiro, para forçar Nicolia a focar-se nele e a deixar Lamas e Rafa em 2x1 para Nil Roca. Mais, cada vez que há um passe, o contra-ataque perde velocidade. É que não é possível receber uma bola enquanto se 'dá aos patins', ou seja, os patins têm de ir a deslizar para haver receção e não podem ir em velocidade. Assim, é aconselhável em contra-ataques o menor número de passes possível (só quando a defesa o obriga, que não foi o caso).


Boa ação de Benedetto, má opção de Telmo Pinto. Rafa recebe a bola e inicia o 2x1. Benedetto ataca-o e obriga Rafa ao passe. Telmo Pinto não fica bem posicionado porque coloca os patins em modo 'finalização' demasiado cedo. Deveria ter continuado com os patins direcionados à baliza, de modo a receber a bola de frente para Pedro Henriques e a ter velocidade suficiente para não se deixar apanhar pelos restantes defesas do Benfica, como aconteceu.


Para exemplificar o que deveria ter sido feito no vídeo em cima, vejam como Gonçalo Alves continuou sempre com os patins direcionados para Pedro Henriques. Aqui, não beneficia do lance de novo por responsabilidade de Telmo Pinto. Opta pela mesma lógica do 3x2 dois vídeos acima, preferindo o passe para o colega para ir sem bola para a zona de finalização. Mas isso exige dois passes. Ao segundo passe (se fosse feito por Gonçalo Alves), Telmo Pinto já não ia receber a bola sozinho. Mas, se Telmo Pinto tivesse continuado a transportar a bola, 'atacando' o único defesa do Benfica e isolando Gonçalo Alves, quando fizesse o passe para este, Gonçalo Alves já iria estar isolado para Pedro Henriques. Com um único passe.

Aquilo que deveria ter sido feito no 2x1 do Porto, está aqui neste vídeo. Um passe, receção de bola com patins virados para a baliza (aqui não foi bem isso, Ordóñez tinha os patins virados para a sua defesa mas, com a sua qualidade de patinagem e perceção do lance, conseguiu mudar a direção enquanto recebia a bola. A qualidade do passe também ajudou), seguida de finalização. O defesa Telmo Pinto poderia ter feito pressão a Benedetto que até acaba por passar demasiado cedo para Ordóñez, tendo em conta a posição do defesa, mas ao mesmo tempo acaba por dar mais tempo a Ordóñez para se posicionar com bola de frente para Mali.


Saída de pressão
Saída de pressão interessante, acima de tudo o movimento de Manrubia que sai da zona central, dando espaço de receção a Nil Roca.



Equilíbrio defensivo
O exemplo da prioridade tática do Benfica (do Porto também). Posicionamento do terceiro jogador a meio do meio-rinque. Dá opção ofensiva mas também transição defensiva (Ordóñez). No início do lance, um exemplo do sistema ofensivo do Benfica após o 2-0. Movimentos ofensivos sempre a dois, menos dinâmicos mas mais seguros em termos de transição defensiva. Como o adversário está em desvantagem, abre espaços e a movimentação de mais do que dois jogadores ao mesmo tempo não é necessária ao ataque porque o espaço já existe.




Em baixo, um mau exemplo de recuperação defensiva de Roc Pujadas, que dá o 3x2 do 2-0 para o Benfica. Já deveria ter descido antes do final do contra-ataque azul e branco, não só não o fez como ainda demorou uma eternidade a recuperar. Dar 3x2 a equipas da primeira divisão é quase como dar livres diretos. Aproveito também para ligar este lance à análise de 3x2 que coloquei em cima. O Porto faz um tipo de defesa parecido ao do Benfica e, por isso, Mali deveria estar preparado para que o contra-ataque terminasse onde terminou. No entanto, também há mérito do Benfica em duas questões: 1) Diogo Rafael aguentou ao máximo o passe, colando os defesas (incluindo o guarda-redes) ao seu stick; 2) Benedetto remata de primeira, fazendo com que a bola chegasse à baliza mais rápido do que Mali chegou ao seu poste direito.


Em baixo, um lance que serve para fazer comparação a outro lance examinado nas duas últimas semanas. A transição portista que, com dois passes, coloca a bola no último terço ofensivo do rinque. No entanto, Nil Roca está bem posicionado para impedir que Roc Pujadas se virasse de frente para o ataque. Pujadas recebe a bola, é verdade, mas não de frente para o jogo, ao contrário dos lances examinados nas últimas duas semanas.


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