PORTUGAL V ESPANHA (FINAL EUROPEU FEMININO)

Portugal: Cláudia Vicente (G), Ana Catarina Ferreira, Sofia Moncóvio, Marlene Sousa, Raquel Santos, Inês Severino, Maria Sofia Silva, Leonor Coelho.

Espanha: Anna Ferrer (G), Laura Puigdueta, Aina Florenza, Anna Casarramona, Marta Piquero, Sara Roces, Mariona Colomer, Sara Lolo, Viky Porta.

Recuperações de bola no stick:
Portugal: 9 (5 na segunda parte)
Espanha: 26 (13 na segunda parte)

Passes errados/intercetados pelo adversário (sem contabilizar passes para atacar a baliza):
Portugal: 16 (8 na segunda parte)
Espanha: 11 (8 na segunda parte)

Contra-ataques em superioridade numérica:
Portugal: 5 (3 2x1; 1 3x2; 1 1xG)/0 na segunda parte
Espanha: 6 (1 4x3 e 2 2x1 na primeira parte - 1 4x3 e 2 3x2 na segunda parte)

Remates que foram à baliza dentro da área:
Portugal: 5 (1 na segunda parte)
Espanha: 26 (14 na segunda parte)

Remates que foram à baliza fora da área:
Portugal: 7 (2 na segunda parte)
Espanha: 11 (3 na segunda parte)

Os números falam por si. A superioridade espanhola foi inequívoca, coletiva e individualmente. Muita organização no ataque, variando jogo atrás da baliza, exploração das laterais com bloqueios naturais e invertidos (ou seja bloqueios quer com bola a partir do meio-rinque quer com bola a partir do fundo da pista) e 1x1 nestas duas zonas da pista (laterais e atrás da baliza).

Ver a seleção espanhola jogar com tamanha noção tática e técnica (patinagem muito boa de grande parte das jogadoras) alimentou a minha teoria de que deveríamos ter hóquei feminino e hóquei misto em vez de masculino, uma vez que existem jogadoras que têm clara capacidade de jogar em qualquer divisão do hóquei atualmente masculino.

Quanto à seleção portuguesa, destaco a capacidade de organização defensiva. Perante tamanha avalanche ofensiva do adversário, notei as portuguesas muito conhecedoras dos perigos que iriam encontrar e das soluções coletivas para resolver esses problemas (exceto uma situação que abordo nos vídeos em baixo). Naturalmente que só isso não chega, sendo necessária supremacia individual defensiva perante a equipa contrária, o que poucas vezes aconteceu.

No ataque, a grande esperança estava nos contra-ataques, que até existiram com alguma abundância (cinco nossos contra seis da Espanha) tendo em conta as circunstâncias, mas não foram bem finalizados em grande parte das ocasiões.


OUTRAS NOTAS
Bloqueio cego/indireto
Dois movimentos bem executados de bloqueio cego, sempre muito complicados de defender. No entanto, existem diferenças defensivas (também porque o bloqueio foi feito em zonas diferentes do rinque). A defesa espanhola Mariona Colomer (7) deu distância para a sua opositora direta (Marlene Sousa 5, a jogadora que faz o bloqueio), o que lhe facilitou a troca de marcação (segundo vídeo). Já a defesa portuguesa que defendia a bloqueadora espanhola, Sofia Moncóvio (3), não antecipou a possibilidade de troca de marcação e, quando se apercebeu que havia essa necessidade, já foi tarde (primeiro vídeo).

Meia-distância com atletas a passarem à frente de Cláudia Vicente
Um lance que exemplifica bem a dificuldade que existe para os/as guarda-redes em defenderem a meia-distância quando a sua visão é dificultada pela passagem de outros/as atletas à sua frente. Para mim, meia-distância só tem sentido desta forma.

Qualidade técnica
Excelente em todos os aspetos do jogo - agressividade defensiva, qualidade técnica e tática -, a segunda foi um dos pontos que mais me impressionou na seleção espanhola. Foram vários os lances que podemos mostrar a qualquer aspirante a hoquista como exemplos de movimentos perfeitos, quer pela patinagem quer pela ação do stick. Aqui ficam alguns deles.


Desequilíbrio a partir da receção de bola. Reparem como Marta Piquero (6), com uma receção larga, tira logo a adversária do caminho. É preciso muita capacidade de antecipação dos lances ainda antes de receber o esférico, para executar este movimento.

Rotação atrás da baliza para o lado contrário ao stick da defesa. Foram vários os lances de Laura Puigdueta (3) com rotação atrás da baliza, quase sempre para o lado contrário ao stick da adversária.

Rotação atrás da baliza para o lado contrário ao stick da defesa. De novo Laura Puigdueta (3) com rotação atrás da baliza, desta vez para o seu lado menos forte e para o lado natural do stick da defesa que até trocou o lado da pega do stick para tapar o lado mais forte de Laura. Apercebendo-se desta situação, em curto espaço de tempo, roda de imediato para o lado contrário ao stick. Fantástico.


De novo, rotação atrás da baliza de Laura Puigdueta.


Laura Puigdueta (3) a conseguir retirar o adversário através da receção, rodando enquanto recebe. De seguida, após boa reação defensiva de Sofia Moncóvio (3), 'leva' o adversário para trás da baliza e volta a rodar para o lado contrário ao stick da defesa. Desta vez, Portugal consegue parar a catalã através da ajuda defensiva.


Mais uma série de rotações de Laura Puigdueta (3), para ambos os lados. Excelente patinagem e controlo de bola.


De novo Laura Puigdueta (3) a ganhar velocidade e a mantê-la com cruzamento da perna, uma pormenor que infelizmente cada vez menos se vê no hóquei e que tanta importância tem na manutenção da velocidade nos lances. Sem cruzamento de pernas, a velocidade implementada reduz consideravelmente.

Defesa - Portugal


Uma boa ação defensiva de Marlene Sousa (5), ficando mais atrás em relação às duas atacantes espanholas. Este afastamento facilita uma possível troca de marcação e uma indefinição das espanholas que não sabem qual defesa irá ficar com quem, anulando possíveis desequilíbrios. Assim, deixa 2x1 ofensivo e fica com as 'deixas' do trabalho defensivo da sua colega.

Uma má perceção de Raquel Santos (9). Era uma situação defensiva de três defesas para quatro atacantes. Assim sendo, a defesa deve ficar em zona (triângulo) e não individual, de forma a que uma atleta fique entre duas jogadoras atacantes.

Como já falado em cima, Laura Puigdueta (3) esteve muito forte atrás da baliza adversária. Portugal tomou, na minha opinião, uma boa opção, fazendo o acompanhamento à jogadora nesta zona, para não lhe deixar tempo e espaço para tomar decisões e jogar, a partir dali, em equipa. No entanto, também era importante fazer o que foi feito neste lance: ajuda defensiva sempre que a jogadora se deslocava para esta zona, de forma a obrigá-la a jogar para perto do meio-rinque e reduzindo o perigo junto da baliza portuguesa.

Ou é uma má opção defensiva de Marlene Sousa (5), tornando um 4x4 num 4x3, ou é uma má leitura das restantes colegas que não se mostraram preparadas para o desequilíbrio defensivo premeditado. Podem-me dizer, "mas estamos a perder 2-0". Estamos, e Marlene pode criar uma situação de duas defesas num atacante mas, para isso, a equipa tem de estar preparada para essa situação, o que não aconteceu. Ou seja, Marlene faz um 2x1 defensivo, leitura que obrigaria uma das restantes colegas a ficar em 1x2 defensivo. Aqui ficou um 2x1 defensivo a meio-rinque com 2x2 defensivo e 1xG na retaguarda, dando maior probabilidade de sucesso ao adversário.


Aqui repete-se a história do vídeo em cima. Raquel Santos (9) cai (o que já desequilibra a defesa lusa), mas Marlene Sousa (5) decide fazer um 2x1 defensivo, deixando a retaguarda (também ela não preparada para o 1x2 defensivo atrás pois vemos Sofia Moncóvio (3) em marcação serrada no interior da área e não entre as duas atacantes mais avançadas para poder cortar linha de passe, sempre arriscado, mas a melhor solução nestas situações) vulnerável. A rápida recuperação de Raquel Santos acabou por disfarçar a situação.

Uma boa compensação defensiva de Ana Catarina Ferreira (2), tornando uma situação de 2x2 em 3x2 defensivo. Ajudando as colegas após a troca de marcação necessária em reação ao bloqueio.