SANJOANENSE V VALONGO



Devo dizer que, de todos os pavilhões míticos do nosso hóquei em patins pelo ambiente que têm, este é o que mais me enche as medidas. Se o pavilhão do Valongo é o San Siro, o da Sanjoanense é claramente o Maracanã. Felizmente, a partida esteve ao nível do público, num dos melhores jogos que já vi esta época, por muitas razões que enumero em baixo, fora a emoção e o ambiente em volta do rinque.

Sanjoanense
Excelente equipa no sentido coletivo. Quiçá a melhor equipa que já vi esta época a fazer bloqueios (ver vídeos em baixo), com um excelente misto de individual e coletivo e que demonstra que, para se chegar à baliza, não é preciso jogar futebol de praia (muito pouca meia-distância, das duas equipas aliás), ainda que a postura defensiva do adversário também não o tivesse permitido (explico em baixo porquê).

A defender, HxH puro, acarretando com os problemas desta decisão (deixa o defesa com poucas ajudas), mas também com os benefícios (cria mais dificuldade à construção do ataque do adversário).

Pareceu-me ser a questão física a grande diferença entre as duas equipas (Valongo também não teve tanta exigência devido à vantagem no resultado), mas até nesta matéria penso que a Sanjoanense e o seu treinador, Reinaldo Ventura, tiveram muito mérito, ao baixarem o ritmo defensivo nos primeiros dez minutos da segunda parte para que nos últimos quinze pudessem estar mais frescos para a possibilidade de ter de continuar a buscar outro resultado, caso fosse necessário (e foi), até porque a equipa no final da primeira parte já estava a dar sinais de menor frescura física.

Os últimos quinze minutos acabaram por voltar à toada da primeira parte, com uma defesa muito alta e pressionante, criando imensas dificuldades ao Valongo para aguentar a vantagem.


Valongo

Valongo muito parecido com a Sanjoanense, variando o ataque coletivo com o individual mas apostando mais na segunda vertente, comparando com o adversário. A defender, HxH puro, tal como a Sanjoanense, evitando com isso as meias-distâncias. Ao contrário da Sanjoanense, este tipo de defesa não foi tão benéfico quanto para a equipa da casa, pela qualidade dos bloqueios ofensivos dos pupilos de Reinaldo Ventura. Numa defesa tão aberta, um bom bloqueio faz com que haja mais incerteza nas trocas de marcação e mais dificuldade na antecipação defensiva do bloqueio. Neste capítulo, a Sanjoanense foi mais eficaz, tornou mais difícil a vida da defesa do Valongo, coisa que os verde rubros não conseguiram fazer no lado contrário da pista, exceto por situações individuais (inclusive os três golos do Valongo vieram de lances individuais).

Os forasteiros tiveram também claras dificuldades em alongar o tempo do ataque organizado ou terminá-lo com finalização, quando em situações de pressão defensiva do adversário. Muitas bolas recebidas com posicionamento corporal suicida (com grande probabilidade de perda de bola e a convidar a superioridade numérica da defesa contrária), limitaram a qualidade do ataque valonguense (ver nos vídeos em baixo).


Bloqueios
O sucesso e a diferença dos bloqueios efetuados pela Sanjoanense divide-se em dois pontos distintos: 1) bloqueios efetuados pelo portador da bola que passa a mesma e logo a seguir bloqueia, mudando o foco defensivo para o elemento que a recebe e dificultando a antevisão do bloqueio de quem tinha a bola. 2) bloqueios indiretos, ou seja, bloquear defesa do jogador que vai receber bola e não o defesa do portador da bola. Esta situação também é complicada de defender pelo facto de ter três jogadores em movimento ofensivo, ao contrário dos dois habituais em grande parte das equipas.


Bloqueio ao defesa do finalizador e não ao defesa do portador da bola.


Apesar de ser um bloqueio direto, estão três jogadores em movimento, tornando mais difíceis as ajudas defensivas e a antevisão de quem irá bloquear e se irá mesmo bloquear.


Bloqueio do portador da bola. Faz o passe e bloqueia de imediato.


Igual. Bloqueio do portador da bola. Faz o passe e bloqueia de imediato.


Bloqueio do portador da bola, desta vez ataque do Valongo.


Não chega a haver bloqueio mas, de novo, movimento a três jogadores, imprevisibilidade entre quem finaliza e quem bloqueia e se bloqueia.


Um dos problemas desta excelente dinâmica é a transição defensiva. Como estão três jogadores a participar no ataque, se este não terminar de forma equilibrada, deixa espaço para transições em superioridade numérica do adversário. 

Espaço para o 1x1
Uma das armas do Valongo. Com a defesa da Sanjoanense a maior parte do tempo de jogo subida, o Valongo aproveitou ainda mais o que já costuma aproveitar, o 1x1. Jogadores sem bola a recuarem na pista para dar espaço a quem tem a bola poder avançar individualmente.






HxH puro. Defesa muito subida.




Espaço para o 1x1 a partir de trás da baliza.


Novamente, 1x1 a partir de trás da baliza.


Defesa muito aberta, dificultando receções orientadas para o ataque mas dando espaço defensivo nas costas do opositor do portador da bola, havendo mais dificuldade em defender o 1x1. Esta situação tornou este jogo super interessante.


1x1. Primeiro golo do Valongo.


Posse de bola sob pressão
O Valongo com grande dificuldade em ter a bola, com jogadores a receberem a bola de costas para o jogo, facilitando a perda da posse de bola.




Estatística do tempo regulamentar (50 minutos)
Sanjoanense: G. Pedruco (G, 50), H. Santos (37), N. Araujo (34), J. Ramalho (32), A. Castaño (28), A. Mount (27), R. Pereira (22), Zé Almeida (19), D. Castaño (8)

Valongo: T. Freitas (G, 50), Carlitos M. (43), J. Almeida (41), X. Silva (39), J. Lima (24), M. Moura (21), T. Sanches (17), J. Pedro (15)


Perdas de bola no stick:
Sanjoanense: 15 (5 A. Mount; 3 Zé Almeida; 2 H. Santos, N. Araújo, A. Castaño; 1 R. Pereira)

Valongo: 16 (3 T. Sanches e Carlitos; 2 J. Almeida, M. Moura, J. Lima, X. Silva, J. Pedro)


Bolas ganhas no stick:
Sanjoanense: 16 (4 H. Santos; 3 A. Mount, N. Araújo, A. Castaño, J. Ramalho)

Valongo: 15 (4 Carlitos; 3 J. Almeida; 2 T. Sanches, X. Silva, M. Moura; 1 J. Pedro, J. Lima)


Remates dentro de área na baliza (primeira/segunda parte):
Sanjoanense: 6/17
Valongo: 3/8


Remates fora de área na baliza (primeira/segunda parte):
Sanjoanense: 3/4
Valongo: 3/5 

Um dado interessante que ajuda à minha teoria de defesa menos agressiva por parte das duas equipas durante os primeiros dez minutos da segunda metade (o Valongo porque estava em vantagem, a Sanjoanense para recuperar fisicamente): neste período foram feitos tantos remates fora de área quanto durante toda a primeira parte. É que se a defesa pressionar, reduz imenso a probabilidade de remate de meia-distância, pois o portador da bola não tem espaço/tempo para poder armar o remate, assim, com menos pressão, o remate passa a ser mais uma possibilidade.

Contra-ataques em superioridade numérica (primeira/segunda parte):
Sanjoanense: 1 4x3; 1 2x1/1 4x3; 1 2x1

Valongo: 2 4x3; 2 3x2/3 2x1; 2 3x2


OUTRAS NOTAS
Rotação


O movimento de Zé Almeida até era giro se não fosse para o lado do stick do adversário.

Neste lance simula a mesma rotação para o mesmo lado mas já tenta explorar o lado contrário depois. Acaba por não conseguir mas fica a ideia.



Troca no bloqueio
Já aqui foi falado em análises anteriores. Como pode haver uma troca se o jogador que fica com o bloqueador já o tem longe? O timing da troca é fundamental, se na hora da troca os dois jogadores não estão confortáveis com esta, o elemento que tem a iniciativa da troca tem de ter esse sentido de responsabilidade e não pode trocar, para não deixar o colega de equipa em maus lençóis.

Transições defensivas

Também já aqui foi falado. Remates a partir do meio do meio-rinque para a frente, com dois elementos à frente da linha da bola, ou dão golo ou dão contra-ataque em superioridade numérica na baliza contrária, porque não há tempo de recuperação defensiva. A bola rapidamente fica em zona avançada do meio-rinque defensivo e propicia o contragolpe.

Atacar para o lado do stick

Um tema muito interessante de falar. A insistência natural em atacar para o lado natural, torna mais fácil o aspeto defensivo. Isto porque se é o natural de quem ataca, também é o lado natural para quem defende (partindo do princípio que a maior parte dos jogadores pegam o stick com a mão direita). Aqui, um exemplo de um passe que, se tivesse sido feito para o flanco contrário, nunca teria sido intercetado, porque é muito mais difícil para os defesas destros defender o seu lado esquerdo, por razões óbvias: o stick está sempre do seu lado direito (a menos que haja troca de pega, o que raramente acontece)

Comentários